Autor: Jon Talber[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Sem dar muita importância ao fato, elas tratam aquele ente, mesmo quando se dão conta de que possui um órgão sexual diferente do seu, a despeito do sexo não semelhante, como um igual. Na verdade, para elas, menino é aquele que tem cabelo curto e menina quem tem cabelo comprido, o que na verdade já é um estereótipo social, só que ainda não sabem disso. E até mesmo as peculiaridades típicas do temperamento de cada gênero, são desprezadas.
Na realidade nós, os adultos, cuidamos para que desde o início a aparência transforme os gêneros em diversidade. Para uma criança pequena isso não tem a menor importância, pois, as diferenças ocultas, até favorecem o desenvolvimento compartilhado.
O fato de gêneros distintos com seus temperamentos peculiares dividirem o mesmo espaço já é um preparo para que se compreendam mutuamente, e que mais tarde possam conviver minimizando as disputas, respeitando o espaço de cada um, longe dos antagonismos motivados pela causa gênero. Entretanto, nós como adultos, fazemos questão de impedir que esse processo espontâneo siga seu curso natural sem conflitos.
E logo que nascem os nossos filhos, nos apressamos em nutrir em seus inconscientes, o que primeiramente são: mulher ou homem. O que acaba por exacerbar de maneira exagerada os traços idiossincrásicos que trazem de berço.
E como também já seguimos um inflexivel padrão social usado para moldar a natureza de cada gênero, isso complementa a primeira parte desse processo de Condicionamento Patológico, que irá transformar menina e menino em entidades completamente antagônicas, divergentes entre si, predestinadas a viver eternamente em conflito. E assim, o culto às diferenças se torna um atributo natural dentro de cada sociedade, exigindo a conduta separatista e comprometendo de maneira dramática o modo de agir e viver de cada um.
E então repetimos os estereótipos já criados para dar origem às primeiras diferenças que deverão existir entre elas. São as roupas, os brinquedos, os hábitos, e assim por diante. Na verdade, uma criança não precisa de nossa ajuda para aprender a diferenciar os indivíduos do sexo oposto, uma vez que isso deveria ocorrer de maneira natural, sem depender dos costumes e tradições que acabam por criar e perpetuar essas linhas divisórias entre os gêneros.
Sem depender de nossa interferência, esse processo é um estágio espontâneo na pauta do desenvolvimento de cada um, e isso deveria ser incentivado pelos adultos, mas, sem perder de vista. Cada etapa do seu amadurecimento foi cuidadosamente projetada pela natureza obedecendo a um critério lógico e bem definido, que contempla ao mesmo tempo, a evolução dos seus sentidos sincronizada à sua condição psicológica. No entanto, logo cedo, ao introduzirmos no mundo dessas crianças aqueles clichês que foram especialmente criados para separar um gênero do outro, quebramos, corrompemos, adulteramos e deformamos esse ciclo natural.
Nada disso tem valor cognitivo ou consciencial, uma vez que descobrirão na hora certa, sem distorções ou juízos bizarros, com o melhor dos entendimentos; sem tabus, sem as maledicentes barreiras que nós, por interesses duvidosos e falta de inteligência, atribuímos existir entre sexos opostos.
E a partir do momento em que as crianças são segmentadas por gênero, também instigamos o culto às diferenças e a prática do preconceito, um comportamento que se estenderá para todas as áreas do convívio humano.
E fazendo seu papel, uma poderosa alça do sistema econômico, a máquina corporativa indutora de hábitos, logo se encarregará de apoiar, alimentar e fortalecer esse status. E há também dentro das sociedades a questão do poder, onde o desejo de dominação de um congênere sobre outro depende exclusivamente da existência desses parâmetros.
O projeto que segmenta os gêneros normatizando os estereótipos característicos de cada um foi idealizado por esse mecanismo social e inserido em nossas vidas como um padrão habitual e necessário, e o pior de tudo, fomos convencidos de que se trata de um processo natural, fundamental para o desenvolvimento sadio de cada indivíduo. E sem perceber, nos tornamos seus agentes multiplicadores. E até nossas emoções foram cuidadosamente planejadas, e assim, naturalmente tratamos cada sexo como entidades antagônicas de fato.
Existe até mesmo um protocolo, que é na verdade um gabarito de procedimentos e regulamentos, que orientam como pais e mães deverão condicionar seus descendentes, evidentemente, com a devida distinção, caracterizando, enfatizando, ilustrando de maneira didática e bizarra as diferenças irreconciliáveis que supostamente existem entre cada sexo.
Trata-se de um modo operacional para lidar com meninas e meninos. Assim, os conteúdos psicológicos, os interesses, os objetivos, tudo isso será fracionado, seguindo à risca a orientação imposta pelo peso e influência de tais demandas corporativas, tradições e costumes patológicos.
Como resultado, substituímos seus temperamentos ingênitos, por mórbidas cópias virtuais ou aberrações comportamentais criadas por nós.
Aprenderão ainda sobre as suas peculiaridades emocionais, as formas como cada um reage diante de uma mesma situação. Trata-se de um aprendizado tão rico que seria incapaz de caber em qualquer compêndio educacional teórico criado por “especialistas” de mente fossilizada e intenções duvidosas.
A convivência espontânea, sem a imposição dos nossos preconceitos, vícios e manias, faculta também o respeito incondicional, e tudo isso, de acordo com suas limitações, inclinações e disposições inatas. Estarão vivendo num mundo novo, já que cada dia será de descobertas.
Não aprenderão que menino é o indivíduo vestido de azul que brinca com carrinhos, nem que menina é aquela que prefere a cor rosa e brinca necessariamente com bonecas. Muito menos que meninos são agressivos e as meninas meigas. Descobrirão se tudo isso é verdadeiro ou falso, naturalmente, sem a estúpida intermediação dos adultos já contaminados por um status existencial de incompetência crônica.
O convívio sem a instituição do gênero permite que compreendam naturalmente o papel de cada um. Não tentarão subjugar um ao outro; nem haverá a necessidade do gênero dominante, pois isso apenas existe a partir do momento que instituímos o fraco e o forte, o inferior e o superior, o dominador e o subjugado.
Se fisiologicamente os gêneros são diferentes, isso também reflete de maneira decisiva nos aspectos psicológicos de cada um. O cérebro masculino enfatiza o movimento e a mecânica dos processos, assim como a compreensão dos espaços físicos, dimensionamentos e formas geométricas, ou seja, o lado racional de cada questão. Enquanto isso, a mulher desenvolve mais a sensibilidade, as emoções, o dom da expressão e comunicação, assim como a fala e a observação, a intuição, o detalhismo, a harmonia e a estética, a Organização, Disciplina e zelo pelas coisas.
Compreender isso é aprender a considerar o espaço e limites de cada um; é entender que os gêneros não existem para competir entre si, mas antes disso, para se complementarem. Neste aspecto, não existe inferior ou superior, mas, ao invés disso, diferentes predisposições e capacidades, atributos psicológicos não antagônicos e sim conexos, cuja função é o trabalho conjugado, exatamente ao contrário do que tentamos instituir a partir de tradições espúrias, que tentam a todo custo dividir os gêneros e impedir que vivam em harmônia e consonância.
Desse modo, podemos afirmar que todo traço próprio de cada gênero é uma condição natural, cujo propósito é que se ajudem mutuamente, o que caracterizaria o permanente convívio ressonante, e não o eterno estado de competição patológica, segregacionista e conflituoso, que conhecemos tão bem!
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial. É colaborador voluntário do nosso Site.
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