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Autor: Anne M. Lucille e Ester Cartago[1]
Conteúdo Revisado e Ampliado: 16 de Janeiro de 2023
Desse modo, antes de tudo, o espaço público se torna uma espécie de passarela ou vitrine onde todos podem se exibir na tentativa de mostrar aquilo que aparentam ser. E assim, uma simples caminhada em lugares frequentados por muitos se transforma numa oportunidade para a autopromoção, exaltação à força presencial e importância social. E cada um se esforça para parecer distinto, virtuoso, capaz de se diferenciar ou destacar-se em meio à multidão.
E uma coisa aparentemente simples como ir às compras, acaba por se tornar uma competição silenciosa, uma vez que, de algum modo, intimamente, estaremos disputando uns contra os outros, maior distinção e a consequente preferência pela atenção do resto da platéia. E embora não possamos prescindir das relações em nosso viver, logo transformaremos este fato num enorme problema.
Como entidades racionais que somos, seria possível perceber que quase tudo em nossas vidas ou relacionamentos gira em torno de um modelo competitivo; uma eterna condição centrada na feroz disputa por alguma coisa?
Talvez tenha se tornado um hábito tão natural que a maioria nunca terá olhos tão aguçados para ter consciência disso. Afinal de contas, somos instruídos assim nas escolas, em casa, no templo religioso, no trabalho, nos esportes, no lazer, e por meio de livros e filmes. Trata-se do status padrão adotado como guia em nosso atual modelo civilizatório. Afinal de contas, existirá alguma ação de nossa parte que não seja motivada por alguma proposta de ganho?
A única intenção por trás do ganho é a coroação de um mérito, uma evidência concreta da conquista de uma vantagem ou a certeza de que chegamos à frente de alguém. E um fato concreto, impossível de ser refutado, é que não existe o sentimento de sucesso pessoal sem a sombra do insucesso de outro a nos servir de referência.
O significado ou objetivo da vida, decerto é aquele que damos a ela, uma vez que a natureza não concedeu a ninguém, de maneira explícita, uma cartilha com estas recomendações, proposições, gabaritos, atribuições ou protocolos formais.
É um modelo no qual cada espaço deve ser conquistado, e aquilo que já possuímos deve a todo custo ser preservado. Nesse modo de vida idealizado por nossos ancestrais, a felicidade é um objeto com forma, simbolismo e conteúdo, capaz de ser comprada ou tomada à força de quem supostamente já a possui.
Impossível se torna pensar em igualdade entre os povos se nós, de livre arbítrio, cultuamos o nacionalismo, as ideologias, a exaltação à etnia, a hierarquia do status social, a própria erudição, e assim por diante? Como podemos idealizar a liberdade entre credos se há uma segmentação criada por cada ordem sectária com o objetivo da autopromoção e consequente desconstrução das demais concorrentes?
Não é de estranhar quando verdadeiras batalhas entre os líderes e filósofos sociais são travadas para reivindicar a propriedade de alguma tradição milenar, cuja intenção é promover a superioridade de uma etnia, ideologia ou credo. Fazemos questão de sublimar nossa raça, culinária, indumentária, estilo de vida, ícones pessoais, rituais e cultos escolhidos como símbolos capazes de afirmar nossa origem e identidade cultural, deixando claro que estamos em luta silenciosa, ou aberta, contra outros grupos sociais, étnicos, sectários ou ideológicos diferentes do nosso.
E o mundo se transforma uma grande arena ou praça de guerra, onde a competição se torna a regra. Estamos em disputa contra todos, até mesmo contra aqueles que residem dentro de nossa casa.
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