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Autor: Jon Talber e Anne Marie Lucille[1]
Conteúdo Revisado e Ampliado: 16 de Janeiro de 2023
Vide um dispositivo eletrônico com seu acabamento impecável, aquela aparência refinada, design ergonômico e elegante, cantos arredondados e suavizados. E por trás de tudo isso, está implícita a ideia, o sentimento da infalibilidade, sofisticação e perfeição que o apetrecho evoca quando o temos em mãos.
São os nossos critérios, gostos, preferências e demandas; nosso condicionamento, as regras e referências que temos para categorizar e qualificar o status dessa alegoria. Entretanto, trata-se apenas de um objeto tecnologicamente bem feito, bom acabamento, útil para cumprir sua função; aquele propósito para o qual foi projetado e depois construído, nada mais que isso.
Ainda não é perfeito, jamais o será, nem seria essa a intenção do fabricante, mesmo que isso fosse possível. Está sujeito a falhas, ao desgaste; o tempo será implacável com ele, tornando-o obsoleto, ultrapassado. Outros virão com a mesma proposta, e para nós, desde que cumpram o papel para o qual foram concebidos, sem dúvida, poderão ser considerados objetos perfeitos.
Os novos modelos serão construídos a partir daquela matriz básica; daquele projeto inicial, dos alicerces já criados. Ele não poderia se renovar nascendo do zero, mas apenas se fosse construído sobre si mesmo. Como seria possível o aperfeiçoamento de alguma coisa sem outra pré-existente?
Dentro da natureza, a despeito de sua imensa diversidade e dramática complexidade, onde as engrenagens ocultas das coisas funcionam gerenciadas por um intrigante e misterioso movimento sem um propósito explícito, qual seria o real objetivo de tudo que existe, se já houvesse perfeição?
O perfeito poderia ser criado? Bem feito não é perfeito; mas é perfeito esse movimento que regenera, recicla, descontinua, potencializa e amplifica todas as formas, de todas as coisas existentes.
E todas as coisas principiam porque ainda não são perfeitas. O início é a primeira evidência da imperfeição, ou não precisaria ser criado. Sendo perfeito, existiria para sempre, sem alterações, sem a necessidade de atualizações ou correções. Entretanto, a concepção do perfeito estático está equivocada, uma vez que a mesma demanda que cria uma necessidade já sinaliza que ali há uma carência reprimida, o que acaba por anular seu estado inicial de inércia.
Seria perfeito apenas para um momento, mas para outro, imperfeito. Não sendo mais necessário, qual seria sua função? Certamente que nenhuma, portanto, não teria motivo existencial.
A renovação, a reciclagem permanente é então a única motivação existencial. Tudo que é criado o é porque precisa ser renovado, reestruturado para ser útil sempre. Origem é o aparente ponto de partida, embora seja impossível delimitar o ponto de chegada. Nesse processo de imperfeição permanente, perfeito é o movimento de atualização e ajuste, sempre partindo de uma minoria para uma maioria; sempre de modo vertical, crescente.
Podemos aprender com o renascer diário. Podemos nos redescobrir com o viver de cada dia; com o nosso viver. Não renascemos a cada dia ao acordarmos? Engana-se aquele que se imagina renovado ao nascer. Não se renova ao nascer; renova-se ao modificar-se depois de nascido, e esta é a essência da natureza, com seus ciclos eternos de mudanças, mesmo que nem todas essas transformações sejam visíveis, mensuráveis ou compreensíveis.
Nosso pensamento é estreito e ainda não é capaz de enxergar além das memórias de uma vida. Nega assim o eterno dom do aprender sobre o aprendido. Supondo uma semente, que depois de aperfeiçoada seja capaz de gerar novas árvores, estas superiores à sua própria origem. A nova árvore terá sua essência, seu espírito aperfeiçoado, e seus herdeiros poderão evoluir partindo de uma evolução prévia.
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