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Autor: Anne M. Lucille e Ester Cartago[1]
Conteúdo Revisado e Ampliado: 16 de Janeiro de 2023
Sim, nós somos os agentes contaminadores de sua psique, uma vez que ela, psicologicamente falando, nos primeiros anos de vida, ainda não tem uma personalidade pontuada pelos costumes sociais. Sua mente está vazia. Ali não existem memórias, nenhum repertório enumerando suas experiências de vida, e sem isso, ela não é capaz de pensar, ao menos de maneira lógica, analógica e consciente, a exemplo de nós os adultos.
No entanto, logo essa mente vazia será preenchida com os caracteres que consideramos mais preciosos em nossa personalidade, tais como, vaidades, crendices, crenças, ideologias, superstições, medos, paranóias, fanatismo, assim como os desejos e preferências mais bizarras. Isso ocorre porque somos uma maioria cuja convicção é de que temos o dever ou a missão divina de reconfigurar o mundo de acordo com nossos gostos, caprichos e opiniões.
Imagine se existisse uma maneira de tornar nossa vida mais fácil, confortável, especialmente se, para isso, esforço algum de nossa parte fosse necessário. Seria o tipo de benefício que, além de muito vantajoso, deveria ser incorporado ao nosso patrimônio ou status pessoal como uma espécie de doação espontânea.
Se pudéssemos com poucas palavras traçar o perfil íntimo de um corrupto, o que teríamos pela frente? Trata-se daquele sujeito que já sai de casa na expectativa de trazer da rua um pacote sempre crescente de vantagens. Um homem alheio a ética e um fiel partidário da lei do menor esforço. Um indivíduo que está sempre disposto a mentir e explorar os incautos sem nenhum pudor, se o propósito for atingir suas metas de autorrealização.
Quando uma criança é tratada como mimos exagerados, presentes e todo um aparato de agrados para que cumpra com seus deveres primários, ela está diante das mesmas condições que também motivam um corrupto. São compensações para escovar os dentes, ir à escola, ir dormir cedo, pentear o cabelo. Então, que tipo de mensagem estamos inserindo na personalidade desse pequeno?
E há toda uma cultura instituída de que criança precisa de agrados exagerados e de que em seu mundo tudo deve ser permitido. E isso inclui as birras, os erros, mesmo os intencionais, até como forma de evitar que sofra constrangimentos ou Traumas Emocionais, caso seja repreendida. É crença de que tais intervenções poderão se transformar em feridas psicológicas sérias.
No entanto, permitir que absorva sem ressalvas todo conteúdo midiático disponível, onde estão incluídas bizarrices, violência sem limite, costumes nosográficos e capazes de abalar até mesmo um adulto, paradoxalmente, isso é permitido, apoiado por cientistas educacionais, aceito socialmente como uma pedagogia adequada.
Assim, alertar para um erro que eventualmente venha a cometer é considerado um gesto capaz de lhe causar traumas. Mas, assistir novelas e programas com tramas espúrias, de uma realidade absurda, onde se cultua a degradação moral e social, isso é considerado edificante, e até debatido em círculos de pais e professores como exemplificação saudável de novos e necessários comportamentos.
Onde está a falha? E se a falha está em nosso modo acrítico de enxergar esse problema? De aceitar essa manipulação midiática com transigência, a exemplo de fanáticos religiosos que se recusam a pensar e se deixam conduzir por gurus inescrupulosos para o abismo, crentes de que do outro lado das trevas existe um paraíso construído especialmente para atender suas carências mais sórdidas?
De fato, essa mentalidade meritória não lembra o processo dos mimos? Isto é, aceitamos o mundo com suas deformações e absurdos, mas em troca de nossa indiferença, concordância, apoio e incompreensível obediência, há um paraíso em algum ponto atemporal a espera dos resignados e consonantes.
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