![]() |
Autor: Anne M. Lucille e Ester Cartago[1]
Conteúdo Revisado e Ampliado: 16 de Janeiro de 2023
Trata-se de um mundo utópico, de faz de contas, onde as distorções não existem e os problemas e dilemas humanos estão ausentes. E ali os sonhos se concretizam sem depender do esforço pessoal e apenas as coisas que dão certo são dignas de referência. E naquele reduto onde a realidade é sumariamente ignorada, onde o mal é retratado como uma palavra vulgar cujo sentido passa longe do seu verdadeiro significado, o idealismo e a fantasia dos chamados contos de fadas predomina.
Os contos de fadas, como nós os conhecemos, ganharam status e importância na baixa idade média, ou idade das trevas, em meio à repressão religiosa e injustiças sociais praticadas pelos governantes déspotas. Embora desconheçamos sua origem, naquela época tomaram a forma que se manteve íntegra até nossos dias.
E tudo isso graças aos devaneios de alguns escritores, cuja intenção era entreter um público carente de sonhos, sufocado, encarcerado, esmagado pela tirania dos costumes daqueles tempos e sem uma ideia clara do significado do conceito de “luz no fim do túnel”. E desde o princípio sempre foi uma deliberada concepção surreal, uma fuga à realidade opressora; uma fantasia libertária que logo, no imaginário de cada um, se tornaria um sonho realizável.
E eis a base de nossa pedagogia ocidental. E só resta à criança, à revelia da sua vontade, absorver essa tradição. Vivemos em um mundo de constantes desafios, imersos em disputas e conflitos sem fim, onde os problemas e as múltiplas atividades preenchem todas as horas do nosso dia, exigindo a cada dobra do tempo um indivíduo mais flexível, qualificado e determinado. E por trás de tudo isso há a entidade humana sem um Sólido Objetivo de Vida, ou mesmo imaginário, à sua frente.
Para enfrentarmos um mundo cada vez mais dramático, inóspito e conflituoso, precisamos dobrar nossos esforços. Soluções nunca são respostas espontâneas ou involuntárias, e sempre demandam disciplina, organização, qualificação e um desmedido esforço pessoal. E diante de problemas milenares que se perpetuam através de gerações, precisamos de novas abordagens e não de velhas práticas.
O que se torna impossível quando continuamos sob jugo de um modelo acadêmico tirado dos contos de fada, onde um homem passivo sonha com as soluções que virão de fora, sob patrocínio de alguma entidade cósmica, a partir de um condão mágico, sem demandar esforço algum de sua parte.
E eis o grande problema da criança educada sob a unção dos contos de fada. Depois de crescida ela não irá esquecer completamente seus sonhos infantis, onde diante de uma crise uma fada com seu condão mágico se prestaria a resolver todos os seus problemas. É difícil esquecer tamanha fantasia, especialmente quando está repleta de promessas semelhantes a aquelas que já preconizam suas atuais crenças sectárias.
Mas as crianças, depois de crescidas, irão enfrentar problemas concretos, questões sérias que nunca fomos capazes de erradicar, e conhecer todo drama desde cedo talvez fosse o caminho mais lógico e inteligente para ensiná-las a lidar com essa trágica realidade. Cientes desde cedo, teriam mais elementos para decidir pela continuidade ou não desse caos, já que nós, por incompetência ou acomodação, desde tarde, nunca paramos para fazer essa escolha.
Para que uma criança seja capaz de resolver seus conflitos do futuro, que são os nossos atuais, desde o princípio, precisarão aprender a conviver com eles. Trata-se de um gesto de bom senso e respeito, caso tivéssemos qualquer um dos dois. Assim, deveríamos lhes informar sobre os conflitos humanos e suas causas. Estas coisas as crianças deveriam aprender conosco, na segurança da nossa companhia, proteção e carinho.
Ignorar essas coisas é desprezar uma oportunidade ímpar de potencializar a cognição dos nossos filhos. Sem nosso aporte, onde as crianças irão buscar esse esclarecimento? Entrarão no mundo a exemplo de indivíduos que adentram à mata sem repelente por ignorar a existência de mosquitos nocivos; ignorantes, vulneráveis, suscetíveis de repetir nossos erros.
Nota de Copyright ©
Proibida a reprodução para fins comerciais sem a autorização expressa do autor ou site.
Mundo Simples.
Email: contato@mundosimples.com.br