Autor: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Se a prevenção é o melhor remédio, isso significa planejamento. Significa que precisaríamos planejar nossos atos, e mesmo a educação de um filho, deveria ser cuidadosamente estudada antes mesmo de sua concepção. Não estamos falando da educação em escala, o modelo mecanizado já consagrado praticado largamente em todos os recantos ou instituições pedagógicas, sejam pagãs, ideológicas ou religiosas.
Nesse caso, estamos nos referindo ao modelo educacional onde o instrutor é ao mesmo tempo educando e educador. Transmitir conceitos impressos com o propósito de que o aluno assimile a experiência implícita por trás das palavras é o mesmo que tentar construir uma casa começando pelo teto. Fazendo uma analogia, seria como tentar descobrir o caminho de volta de um lugar para o qual não existe caminho de ida.
Palavra alguma jamais significará a coisa que se presta a retratar. Mas poderá servir como roteiro para informar que aquilo merece ser examinado, investigado, e se for possível, evidenciado, autenticado e comprovado por meio da autoexperimentação. Só o próprio indivíduo poderá comprovar, uma vez que a compreensão factual só poderá existir a partir da experiência pessoal.
Disciplinar pela força de uma tradição, pela imposição do medo ou por meio de compensações é o mesmo que tentar remendar roupa velha com retalhos ainda mais velhos. Não funciona; não há como esconder o dano. Ocorre que roupa velha não deixa de ser velha por meio da aplicação de novos remendos. Uma velha recorrente não se corrige com uma nova e temporária maquiagem.
O fato é que nossa educação contém os maus e os bons costumes, e tudo isso faz parte da nossa cognição. Uma criança aprende porque esta é sua função e não porque existem os instrutores para isso. Um instrutor a direciona para um determinado objetivo, que pode ser improdutivo ou produtivo. O ato de aprender pode significar involução e retrocesso ou evolução e progresso. Para repetir conceitos e tradições, como isso não requer o emprego da dúvida, não precisamos de instrutor, uma vez que o ato de imitar, que é uma capacitação de berço, é o único pré-requisito necessário.
De aprender todos são capazes. Saber destruir e construir, ambas, são formas de aprendizado que requer instrução. Saber direcionar esse aprendizado para destruir ou construir de maneira consciente, dirigida, planejada, eis a função do docente. Se destruir um vício é o objetivo, eis o papel da verdadeira instrução. O mesmo vale para a construção ou potencialização de uma virtude já consolidada.
Sim, um mau comportamento, para nosso cérebro, tem o mesmo peso de um vício. Trata-se de um hábito, um gesto mecanizado que não precisa do intelecto para ser processado, fixar suas raízes e florescer.
Observe uma mente vazia, e ela estará sempre em busca de uma ocupação. Pode ser qualquer coisa. Pode ser o que formalmente consideramos inútil, quanto o que julgamos útil. E é nesse vácuo criado pela ociosidade, falta de direcionamento consciente e ausência de coerência, que se manifestam os vícios, as manias, os Pensamentos Patológicos com suas nuances Sociopatas.
Uma criança pequena é incapaz de discernir com clareza, uma vez que ainda não possui um lastro de informações, ou volume de memórias suficientes para isso. Mas já hospeda idiossincrasias inatas que a predispõe a sentir, de modo inconsciente, atração e afinidade por certas coisas, sejam alvos espontâneos ou aqueles patrocinados ou sugeridos pela mesologia. A despeito disso, ela já é uma exímia imitadora, e possui o dom natural de ser amestrada, embora ainda careça de um instrutor para direcionar e qualificar o seu aprendizado.
Para aprender a andar não precisa pensar, basta ser capaz de imitar aquilo que se vê. O Pensar qualificado requer planejamento, informação, atenção e organização; requer ainda um objetivo e uma Motivação, e nunca é um processo involuntário. Por outro lado, a imitação sempre o é. Não devemos confundir o processo de imitação inato, com o desejo de imitar pós-nato ou voluntário.
Salvo as exceções genéticas, a exemplo da dependência involuntária do filho de e uma mãe já viciada em drogas, ninguém se vicia em alguma coisa involuntariamente. A causa do vício começa na psique, e a depender dos desdobramentos, poderá se tornar uma patologia física. Não existe desejo inconsciente, todos são conhecidos, calculados, pensados. Se a mente se torna dependente de uma mania é simplesmente porque aquilo lhe proporciona algum tipo de satisfação. Não existe vício sem satisfação, ou seria aversão, e isso representaria o fim do problema.
Por que ninguém é viciado em algo que não lhe proporciona algum tipo de prazer ou satisfação? Efeito colateral é uma coisa, satisfação outra. Veja-se o guloso. Ele come sem medir as consequências ou sem contemplar uma eventual indigestão. Mas, tanto o mal estar do excesso, quanto a indigestão em si, não são os efeitos primários pretendidos. Antes disso, o objetivo é o prazer que lhe proporciona a sensação de saciedade ou sabor das iguarias, e assim por diante.
Toda dependência psicológica sempre está associada à ideia de prazer. Confunde-se, equivocadamente, dependência física com psicológica. Não é a mesma coisa, embora algumas vezes, uma se torne o agente motivador da outra. Ter fome é uma dependência física, uma necessidade, mas não um vício, nem um desejo. Por outro lado, fumar é um desejo, que pode se transformar em vício, ou dependência física, mesmo não sendo uma necessidade somática. Ou seja, nosso corpo saudável primariamente não precisa de um suprimento diário de nicotina para sobreviver.
Mas o pensamento julga que sim. Evidentemente que está equivocado, doente, em desequilíbrio. Isso ocorre porque é uma mente mecanizada, preguiçosa, nosográfica, que não pratica a virtude da dúvida; uma mente que se especializou na indolência, que se presta tão somente a imitar. Em uma terra sem dono, onde inquilinos passivos e indolentes passeiam indiferentes, a exemplo de uma mente preguiçosa, os posseiros ativos em pouco tempo ocuparão aquele latifúndio, sem a resistência dos nativos.
Assim, nosso pensamento, no final das contas, é o agente responsável por determinar todas as nossas dependências. Uma mente organizada pela disciplina e motivada pela dúvida, sempre terá o aprender lúcido como pauta, e por isso se mantém ocupada, repleta de afazeres profícuos, e essa é sua natureza. Uma mente mecânica, ociosa, preguiçosa, imitativa e não inquisitiva, não tem rumo, nem projetos, e sempre irá se dispor a repetir qualquer coisa, inclusive as deformações e sociopatologias.
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial. É colaborador voluntário do nosso Site.
Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora. Torna-se agora mais uma colaboradora fixa do nosso site.
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