Autor: Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Dotada de um cérebro, este naturalmente tende a se desenvolver e cumprir seu papel. Dentre eles, o de pensar de maneira lógica. A princípio a lógica cerebral se baseia em algo bastante simples: É coisa “necessária à sobrevivência”, serve e será gravada na memória como coisa boa; não é coisa necessária à sobrevivência, também será gravada, mas, como coisa negativa ou desnecessária. Com o passar do tempo, o conceito de mau ou bom passa a ser classificado como aquilo capaz de proporcionar ou não satisfação, ou um bem estar consciente.
Mas, essas diretrizes operacionais logo serão revogadas; serão substituídas pelo nosso modelo de comportamento. Em pouco tempo, aquela lei primária e instintiva que regia seu cérebro primitivo será desfeita. Será substituída por várias outras leis; as nossas leis e gabaritos, nossos próprios motivos e objetivos existenciais, criados muito antes de nós, pelos nossos antecessores. A criança agora estará sob jugo das antigas tradições e costumes da mesologia ou cultura onde vive.
O medo primário de não ser capaz de conseguir alimento, este é o gatilho que faz a criança chorar. É coisa inata, isso ela não aprendeu com seus pais. A mesma regra vale para a sensação de desconforto ou dor. Assim, o medo de não ser capaz de sobreviver, este é o ponto principal sob o qual se apóia a existência humana. É instinto, traço genético, um processo involuntário e parte integrante da estrutura celular, biológica, de qualquer entidade viva. Podemos chamar a isso de estratégia existencial, e, claro, não foram condições criadas pelo homem.
Uma criança, conscientemente, não teme a morte. Ela, aliás, não teme nada, pois ainda não pensa de maneira lógica. Não sendo capaz de pensar de maneira lúcida, não tem como determinar de modo consciente o que vem a ser uma necessidade. Seu corpo ainda é regido pela espontaneidade e instinto; temperamento e idiossincrasias, sem depender de sua vontade deliberada, consciente, planejada ou organizada.
O medo de não conseguir passar de ano letivo, essa já é uma condição pensada, artificial. Mas é capaz de ativar o mesmo mecanismo de medo involuntário usado primariamente como artifício para a sobrevivência do animal que somos. Se antes o mecanismo de alarme ou medo era ativado por um motivo justo, coerente, pois se tratava da autopreservação, agora ele é ativado de modo artificial, por uma razão que não significa necessariamente a manutenção da integridade física daquele ente. Nesse caso, trata-se apenas da sobrevivência psicológica do Ego, uma entidade virtual criada pelo pensamento e que luta para se fixar como coisa real.
Nosso pensamento criou suas próprias regras e motivos existenciais, por isso fica confuso, ativando e desativando, conforme suas demandas, nosso mecanismo primário de medo. E somaticamente nosso corpo emocional reage a isso. E há a ansiedade, o stress, o pavor, a sensação real de insegurança. E surge aquele temor de que existe um risco iminente ou situação de grave ameaça à nossa integridade.
Para responder a essa questão, em primeiro lugar precisamos entender o que vem a ser a Autoconfiança; como foi construída, se desenvolveu, e depois se consolidou. E isso implica em examinar as características e estrutura psicológica daquele indivíduo que a possui.
A Autoconfiança é uma qualificação e um dos principais aspectos da criatividade. E a criatividade como qualificação só é capaz de aflorar onde há incentivo, valorização, apoio e aporte. E sendo a Autoconfiança uma qualificação, ela não existe sem treino. E esse treino começa em casa, quando os pais valorizam os filhos nas pequenas tarefas domésticas, nas pequenas posturas pessoais, nos pequenos gestos e trabalhos escolares.
A criança ou jovem torna-se autoconfiante quando os outros lhes dão crédito. Não existe Autoconfiança sem que o indivíduo seja capaz de comprovar por meio da valorização de uma obra pessoal a partir da sua aceitação por outros. Também não existe Autoconfiança onde há indiferença e a ausência desse reconhecimento ou aprovação. Sem esse aporte, nasce a insegurança e uma Baixa-autoestima, uma consequência natural do medo da reprovação ou não aceitação.
No entanto, não devemos confundir a Autoconfiança que aflora a partir da competência do autor de uma obra reconhecida e aprovada por quem se beneficia, com o sentimento de Arrogância que pode aflorar nesse mesmo autor diante de condições semelhantes.
Por esse motivo, primariamente, os pais precisam ficar atentos, uma vez que, assim como a Autoconfiança e o sentimento de insegurança, a Arrogância também se aprende em casa. Motivo pelo qual, sempre que possível, as comparações precisam ser evitadas. A competência e a destreza do seu filho são atributos que nunca deverão ser comparados com o status de mais ninguém, ou, em pouco tempo, ele também se torna arrogante. A Arrogância é uma prerrogativa natural de um Ego mimado, que nasce a partir dos elogios exagerados, quando glorificamos nosso trabalho e depreciamos o alheio.
Cuidar para que nossos filhos se tornem naturalmente humildes na busca por méritos, e organizados e exigentes quando o assunto for a qualidade de seus afazeres, como pais, e de mais ninguém, esse é nosso papel. Inútil é procurar por outros responsáveis fora de casa, eles não existem. Assim como também não existe tarefa pessoal pequena ou insignificante quando se trata do elogio sincero, um modo natural de motivar uma criança ou jovem, quando na execução dos afazeres domésticos.
Mais tarde, na rua, as crianças ou jovens poderão comprovar se a orientação e o reconhecimento que já receberam dos pais em casa a partir da delegação de tarefas simples, foi útil para suas vidas. Por isso não vale mascarar a incompetência ou esconder as pequenas ou grandes falhas dos filhos, mas, ao invés disso, identificá-las e ajudá-los a superar tudo isso antes que se exponham publicamente, evitando assim que venham a cair nas malhas do constrangimento.
Como educadores e pais, conhecedores desse mecanismo, cumpre-nos estudá-lo em nós mesmos, para depois tentar ajudar nossos filhos e alunos com os devidos esclarecimentos, assim como com o incomparável exemplo pessoal. Lembre-se, ainda não existe instrutor mais eficaz que o bom exemplo lúdico.
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[1]Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora.
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