Autor: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Publicado: 02 de Setembro de 2024
Um livro pode se tornar um eficaz educador, assim como um mito, uma crença, um tabu, ou ainda uma Propaganda que pretenda criar novos hábitos de consumo ou novos estilos de comportamento. E podemos chamar a todos estes de agentes instrutores, mas não educadores. Se o papel desses agentes é ensinar coisa inútil ou útil, isso é outra história, o que não anula seu papel de preceptor ou professor. A maioria dos “educadores” do mundo poderiam se enquadrar nessa categoria.
Quando observamos o atual modo de vida do homem, suas formas de convívio social, angústias coletivas e individuais, as causas de suas ansiedades, seus medos, vaidades e ganâncias, parte do acervo da sua extensa cadeia de problemas existenciais, não há como negar que tudo isso faz parte do seu conhecimento acumulado. E os novos moradores do planeta, grupo do qual fazemos parte, acabarão por herdar dos seus ancestrais, inicialmente sem direito a escolha, todo esse repertório cognitivo, num ciclo sempre repetitivo.
E é esse conhecimento que dá origem ao conteúdo da mente dos novos inquilinos, criando suas personalidades, que por sua vez constituem o cérebro ativo dessa humanidade. Assim podemos afirmar que a Mentalidade do Mundo é o nosso principal agente cognitivo. Ela se manifesta através de nós; seu pensamento é nosso pensamento; suas necessidades psicológicas são também as nossas, assim como seus objetivos existenciais.
E o mundo repassa seu conhecimento para seus filhos. E se esse mundo não caminha em nenhuma direção coerente, também esse será nosso destino. E por meio de nós, o pensamento do mundo se transforma em ação. E por meio de nós, esse pensamento poderá permanecer inalterado ou ser reciclado.
E eis que surgem os nossos filhos, os adultos do futuro, cujas mentes são como livros com folhas em branco; folhas nas quais podemos escrever qualquer coisa, até nossas frustrações e medos inconscientes. E também nossos desejos e vaidades; nossos desafetos e afetos; enfim, incontáveis traços que já fazem parte de nossa personalidade. E enquanto as crianças não são capazes de evitar a absorção dessa mentalidade, nós, como educadores ou pais, se estivermos cientes desse fato, talvez possamos mudar a qualidade dessa escrita.
O sentimento de frustração, como traço instintivo, serve para nos alertar dos perigos, das dissonâncias que põem em risco nossa integridade física. Isso nos faz chorar no berço evocando a assistência de nossa mãe quando estamos com fome ou em apuros.
E, apesar da frustração ser um estado natural, inato, um atributo necessário à sobrevivência animal, há outra variedade, e esta foi criada por nós. Surge quase sempre quando as muitas expectativas criadas pelo nosso pensamento acabam por encontrar obstáculos difíceis de superar à sua frente. Isso pode ter como motivação problemas sérios, ou apenas caprichos dos mais simples e estúpidos.
Essa “frustração” virtual, ele, o adulto, cria e repassa para seus filhos. Esta frustração artificial, o adulto primeiramente apreende, absorve, dos seus ancestrais, e depois de praticar em si mesmo, dá de presente para seus descendentes. E essa escrita tem se repetido na íntegra ao longo das eras. Se isso vai continuar indefinidamente, apenas nós, como multiplicadores de tradições, manias, costumes bizarros e patológicos, podemos decidir.
Ensinar a ser inteligente não é a mesma coisa que ensinar a repetir aquilo que já praticamos. Inteligência surge com o princípio da descrença ou da dúvida, onde tudo que chega aos nossos olhos e ouvidos deve ser investigado, avaliado, examinado, com liberdade, sem medo, sem exceções, antes de se tornar instrumento útil para nosso uso ou dos outros.
Só uma mente que admite não ter certeza é capaz de aprender. Só uma mente que não sabe, que duvida até de si mesmo, pode se tornar inteligente. E a inteligência começa com o princípio da auto-organização, que conduz à autodisciplina e a autocognição, e tudo isso requer liberdade ou autonomia pensênica.
E essa liberdade é o princípio fundamental para tudo. Sem ela não há chance alguma de progresso psicológico. As tradições, com seus tabus e dogmas; com as incontáveis doutrinas condicionadoras, não permitirão mudanças, iniciativas que possam colocar em risco sua autoridade. Precisamos estar livres para pensar, divergir, duvidar. A verdadeira Disciplina só pode existir onde há liberdade, um caminho natural para a organização que dá origem à inteligência.
Criamos o mundo psicológico que deu origem ao homem confuso que ora nos representa ativamente. Somos a imagem do mundo com suas deformações, e a menos que se promova uma mudança no rumo do nosso padrão de pensamento, harmonia e bom senso jamais farão parte dos nossos dias. E não adianta se iludir; a lógica é bastante simples: uma mente deformada só é capaz de criar ainda mais deformação, nunca o inverso.
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
É colaborador voluntário do nosso Site.
Ester Cartago - estercartago@gmail.com
É Psico-orientadora especializada em educação Integral e Consciencial, Antropóloga, pesquisadora de Fobias Sociais e também escritora.
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