Autor: Anne Marie Lucille[1]
Publicado: 02 de Agosto de 2024
Não se observa em nenhum momento o aspecto que conhecemos como estabilidade, permanência ou harmonia, ao menos quando comparamos com o modelo de estabilidade – a rotina estacionária – que aspiramos em vida. Se para nós estabilidade significa segurança, continuidade, rotina, hábito ou a perpetuação daquilo que já conhecemos, na contramão, dentro do processo que rege a fisiologia de todas as coisas sob jugo da natureza, essa condição parece não existir.
Se uma semente se torna planta, pequena ou grande, logo em seu arranjo primário, até para que o próprio espécime possa existir e se desenvolver, o aspecto estabilidade, que seria o estado de imutabilidade de qualquer coisa, necessariamente deixará de existir.
A semente se desenvolve e germina em contato com o solo, e logo se torna planta. E nada permanece estático e sem que suas estruturas sofram dramáticas transformações. Não existe um corpo inerte a permanecer livre de mudanças, e isso contraria nossa proposta de mundo ideal, onde tudo seria eterno, imutável, estável para sempre. A segurança da permanência em um mesmo estado por tempo indefinido, num ritmo invariável e perpétuo, é coisa que não existe e nunca existiu no mundo natural, embora tenha se tornado o centro de nossa jornada existencial pessoal.
Psicologicamente, este constitui o principal objetivo do homem. Permanência, continuidade e estabilidade. A rotina do conhecido tornado perpétuo é seu maior desejo. Assim, corre a natureza numa direção e ele noutra. Se fisicamente isso parece coisa impossível de se concretizar, ele apela para o aspecto psicológico.
E em sua mente acaba por criar um estado de continuidade ou perenidade onde as coisas, além de jamais sofrerem alterações, permaneceriam para sempre como são; pelo menos aquelas que sabidamente lhe proporcionassem satisfação.
Mesmo o ato de procriação da espécie apenas contempla a ideia da perpetuação humana, sem que ao menos seja levado em conta o fato de que o próprio procriador não poderá presenciar essa cadeia sucessória indefinidamente. Ele procria sem saber o motivo, embora exista por trás do ato a firme convicção de perpetuação do gênero humano. Entretanto, também não sabe qual é o significado desta perpetuação, uma vez que o processo da perpetuação não se aplica a ele próprio.
Animais e vegetais são regidos por uma lógica de extrema regularidade, não de estabilidade. Regularidade quer dizer ciclos. Ciclos bem demarcados; tão precisos que mesmo se prestam a determinar o curso cronológico dos nossos relógios.
Uma estação do ano não ocorre por acaso, pois o acaso não pode coexistir com a regularidade. Acaso é coisa incerta, irregular, motivado por um mecanismo de extraordinária complexidade, mas que só podemos perceber onde exista um ciclo regular. A irregularidade só existe dentro da regularidade, jamais fora desta. Logo regularidade significa planejamento, Inteligência, premeditação, organização, conhecimento de cada causa e do seu respectivo efeito.
A partir de uma matéria comum, básica, matriz para tudo que existe, veja-se a variedade de espécimes existentes. Se um serve de alimento para o outro, partimos então de uma mesma estrutura; um corpo molecular comum a todos.
Não se alteram as estruturas da matéria básica, mas apenas alguns aspectos de sua natureza química ou energética. É como a energia elétrica direcionada para diferentes aparelhos, diferentes níveis de consumo. Na sua matriz a energia é uma coisa só, não existem duas ou três. Dilui-se ou ajusta-se sua potência; adapta-se para os diversos consumos, mas não se altera sua natureza original.
Assim, de uma só Matriz energeticamente diluída ou quimicamente modificada, infinitas formas poderão ser criadas. Diferentes potenciais energéticos, diferentes veículos quimicamente constituídos, cada um com uma função magistralmente planejada, sem acasos, sem imprevistos; nada que não tenha sido laboriosamente planejado antes.
Dentro desse complexo mecanismo, o imprevisto é uma coisa já prevista. Eventos de qualquer natureza – o imprevisto é um deles – só poderiam existir em comunhão com os objetos a eles associados, jamais de outra forma.
Desse modo fica bastante clara a “influência” de uma força inteligente, embora desconhecida, organizadora de todas as formas existentes; uma instância responsável pela regência do mecanismo de funcionamento de cada uma delas.
Fica essa questão em aberto, uma vez que em nosso atual estágio consciencial e evolutivo, aparentemente, ainda não fomos dotados de um veículo com potencial para abrigar um padrão cognitivo capaz de anatomizar, sumarizar e compreender esse processo, mesmo que a resposta provavelmente esteja escancarada diante dos nossos olhos.
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Anne Marie Lucille - annemarielucille@yahoo.com.br
Antropóloga e Pesquisadora na área da Psicopedagogia. Atua como consultora educacional especializada em Educação Integral e Consciencial.
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